domingo, 14 de diciembre de 2008

¿Cuántos hijos tuvo Diógenes el Cínico / amarrado
al barril donde cantaba puras leperadas?
¿Embriagó a su verga con cicuta?
Además de negarse a vivir como ni Dios mismo
¿Cuál es el eco que nos llega de lo que hizo o no quiso
hacer?
Estas preguntas no surgen de la nada
La cueva donde la vida & la muerte son cómplices
pendejas
La cueva que no acaba de sorber el diluvio
del hedor de este cosmos trastornado
se desquebraja desangrando la pesadilla de su espejo
La esquina mar & cielo ya está muerta
Roncan beodas las abejas
Pero la herencia del sarnoso aquél
puebla aún estas noches de azorados intersticios
La verdad sigue siendo vista como cosa putrefacta
Los letreros de
Prohibido Cruzar son más abundantes
que las mismas vías de tren
El abrazo de la mente es más temido que la peste
del dinero
& a la figura de 1 perro montado en 1 perra
se le escupe como si 1 pez hecho de espinas
desbaratado de rabia pudiera evaporar al mar.

(Mario Santiago,
el Ulises Lima de Los Detectives Salvajes)

martes, 2 de diciembre de 2008

Teses sobre a metafísica do cinema

1 – O cinema é uma espécie de Exu, o mais novo dos deuses (das artes) ao mesmo que o mais poderoso e comunicador. Vive na transição entre o mundo divino (o das artes) e o efêmero (da vida). Neste sentido o cinema não é apenas uma magia, mas também um ebó. E como Exú, é ladino, pois sem perceber faz parte da ordem, sendo sempre, mesmo que não querendo, linear. Boçal às vezes. Mas sempre linear. É africano nascido nas américas. Escravo.

2 – O 4:3 como opacidade, movimento, montagem, cinema de vanguarda. O 16:9 (assim como o cinemascope) como profundidade de campo, tempo, cinema moderno. Pensar em Fassbinder, com filmes opacos em 4:3, e filmes cheios de profundidade em 16:9. Fassbinder substitui a opacidade do posicionamento de câmera em nome da opacidade da luz. Godard de 4:3 e Godard de 16:9 também são dois cineastas completamente diferentes.

O 4:3 é da video-arte, da História do Cinema, da montagem, dos apartamentos de Katzelmacher. O 16:9 é do desejo, dos sonhos, dos desertos, do vazio, da crônica feita silêncio.

3 – O desenho como design, designo, destino. O cinema-desenho entre a idéia e a representação, entre a geometria e a geografia. O cinema-esboço que se desenrola na velocidade do pensamento. Chris Marker de Livel Five, do Último Bolchevique. Godard da História do Cinema.

4 – O trem-cine linear em direção à cidade (Berlin, sinfonía de uma cidade), ao metrô-vídeo (Tokyo Ga). O mapa do trem é para fora, é linear, a sua paisagem é cinematográfica, profunda, verdadeira, pura, consciente. O mapa do metrô é para dentro, hipertextual, a sua paisagem é formada por reflexos e propagandas, é virtual, falsa, cheia de câmeras de vigilância num mundo subterrâneo e inconsciente, labiríntico.

O cinema é um mecanismo que surgiu em nome da verdade científica. O vídeo é um mecanismo que veio em nome da falsidade científica. O vigésimo quinto quadro vem para provocar dúvida. É um quadro que olha para trás, congelando o tempo. A cidade como vários tempos num mesmo espaço (digital e hipertextual), ou seja, vários espaços ao mesmo tempo. Fragmentação e justaposição. Vídeo-cine-de-(re)-composição-falseamento-ressignificação.

5 – A transição está na chegada do homem à lua, na derrota política de 68. A perda do eixo gravitacional, o congelamento do tempo, o surgimento do vídeo e a normatização de todas as coisas. O homem e o espaço sideral, as imagens eletrônicas sem referecial exteno possível. A imagem dobrada, distorcida, trabalhada, o abstracionismo não elitista, mas da vida, o abstracionismo ruidoso do vídeo.

6 – No vídeo e na tv tudo é ao vivo. Há uma relação direta estabelecida entre o vídeo e uma busca pelo retorno da aura. Mas uma aura estéril, sem carne, uma tanatoestética de corpos vivos. A fotografia conecta os vivos com os mortos. O vídeo (telefone visual) conecta os vivos com os vivos. E para tanto tornamo-nos mortos-vivos. O skype, a televisão, a internet, possibilitam o retorno do acontecimento aurático apesar (através) da técnica. A vida apesar (através) da morte.

O preto no vídeo não é ausência de luz somente. É ruído vivo. Pixel-morte enlouquecida que se quer imagem.

7 – A película se banha no caos pré-formal para depois sair revelada, mas só pode existir através da luz.

8 – Bazin fala dos cineastas que crêem na imagem e dos cineastas que crêem na realidade. Godard crê na imagem como realidade. Mas é Chris Marker o grande escultor de cristal.

9 – A película é perfurada pela luz refletida nos corpos, perfurada pelo simulacro dos corpos. Neste sentido a imagem é índice. Quando montada (vista) produz significado generalizante, torna-se ícone. O cinema é sempre documental (quando feito) e ficção (quando visto-montado).

10 – O número dez é por demais completo. O número nove é o da serpente. O ano da situação-limite, do auge da guerra-conflito de morte. O aleatório.

11 – O cinema como bússola, mapa, como forma de dominar a natureza.

12 – Filmar: Conhecer-matar. Montar: (de)(re)Construir-alienar. Exibir: Aproximar-vender.

13 – O cinema como vida - plano entre dois cortes. A vida como cinema - Tavertet, um povoado na Catalunya entre dois despenhadeiros.

14 – A magia e a técnica se distinguem por uma mudança de grau e não de natureza.

15 – A aranha-demiurgo.

Pouco se fala de um cinema seguidor das associações psicológicas do autor-deus-montador, sem lógica para além da de seu próprio inconsciente revelado (rebelado), revelador de uma realidade invisível e inquietante. O cinema como Véu de Maia, telaraña tecida por algo-alguém-tempo que permanece obscuro, invisível, desconhecido. Um deus-aranha que se faz presente através da teia pelicular (se há teia é porque deve haver aranha, não?), que se faz presente através da pergunta e da ausência: onde está a aranha?

16 – A aranha entre os fios da teia, nos cortes que separam ao mesmo que unem os planos numa rede: corte-associação, inconsciente demiúrgico.

17 – Um velho de bigode costumava falar da aranha da razão. A aranha na verdade é o inconsciente demiúrgico. A teia é o que se enrola-desenrola através do projetor.